Por mais que as pessoas digam, só quando caio é que realizo. E quando caio, dói-me. E se me dói, dá-me vontade de chorar. E choro por não ter ouvido quando me diziam, e choro pela dor, e choro porque só me apetece chorar. Eu, por ti, devia estar oca: não sentir nada. Nem raiva, nem pena, nem desprezo... nada. Não devia derramar uma lágrima, esconder o meu sorriso, perder horas de sono, hipotecar os meus pensamentos. Eu, por ti, não devia ter nada. Se assim, fosse, não cairia do meu andor de santinha, não tinha medo de andar num trapézio sem rede, de saltar de pára-quedas sem sobressalente. Não devia sucumbir à tristeza e à desilusão. Se tu nunca me tivesses dito nada, eu não me sentiria usada, nem suja, nem diminuída. Se eu não te tivesse posto num altar, se não te tivesse construído um templo, se não te tivesse venerado, se não te tivesse idolatrado... Se tu me tivesses passado percebido, tinha tido mais horas felizes, mais noites de bom sono, o meu coração já não me doía e as minhas veias já não me queimavam. A minha garganta já não me sufocava, os meus olhos já não quereriam chorar. Se tu não tivesses arrombado a porta do meu peito, eu hoje conseguiria ouvir aquela música sem pensar em ti. Conseguiria ver aquele filme sem me lembrar de ti. Conseguiria imaginar-me em qualquer cidade do mundo com outra pessoa qualquer que não tu. Sonharia em cuidar e proteger outra pessoa. Se não tivesses feito o que fizeste, eu conseguiria olhar-te e respeitar-te, mesmo odiando-te. Se não tivesses aparecido, não sei que mundo conheceria. Não sei que papel vieste desempenhar na minha vida - não foi, com certeza, o papel principal! Não sei que sentido faz existires se até agora só conto com mais coisas más do que boas. As noites mal dormidas, os sorrisos perdidos, as lágrimas escorridas, os pensamentos assaltados... já não basta de sofrer?