domingo, 23 de março de 2008

O jogo

Encontro-me num beco sem saída. Tudo porque me meti num jogo que não sei jogar. No início, pensei que sim. Decidi arriscar, não tinha nada a perder. Entrei para ganhar. Sentei-me, confiante no jogo que me ia calhar, adquiri a arrogância natural dos jogadores. Olhava para os meus adversários de soslaio, na esperança de tentar perceber as suas jogadas, de notar os seus tiques característicos. Olhava para a minha mão, certa de que ia fazer uma grande jogada. Um full house, como se diz na gíria. Mas havia qualquer coisa que não estava bem. Sentia o meu coração mais acelerado do que normalmente acontecia. Só depois, com o desenrolar do jogo, realizei que os truques me escapavam. Que mais depressa apanham o meu bluff do que eu consigo fazer poker. Que em vez de gritar "GIN!", grito... tiro no porta-aviões! E é aí que me fazem xeque-mate! Tudo porque estou confusa... e não sei que jogo estou a jogar. Deixo cair os "ases" escondidos na manga, faço jogadas previsíveis com os meus peões, ponho em xeque o meu Rei, afundo a minha frota naval... Tudo porque as regras estão baralhadas... ou então as regras mudaram, desde a última vez que joguei. Há muito tempo que estou "fora-de-jogo" e há jogadas que para mim são totalmente novas... Pensei que fosse como andar de bicicleta, que nunca nos esquecíamos. Tola... Se tudo evolui, porque não haveriam de evoluir também as regras do jogo?
A verdade é que ás vezes apetece-me imenso jogar este jogo. Há dias em que me sinto cheia de sorte, e sinto vou dar uma "abada das antigas"! Mas há outros em que tanto azar parece mentira... E que só me apetece abandonar a mesa antes que perca tudo o que tenho e o que não tenho. Mas o jogo, tal como qualquer outro vício, é difícil de largar. E quanto mais nós pensamos que estamos a ganhar, mais queremos jogar, e quanto mais nós pensamos que temos os trunfos todos e que a mão é nossa, mais difícil é deixar de jogar, e quanto mais nós pensamos que a nossa próxima jogada vai pôr o adversário em xeque, mais baixamos as nossas defesas e mais nos tornamos vulneráveis... Neste jogo, sei que não sou eu que dou as cartas. Mas, desta vez, só vou a jogo, se tiver mão para isso.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Sinto um formigueiro nas pernas. Os meus braços andam caídos e não querem levantar-se. Ando cansada. Os dias já não são todos iguais. Há sempre coisas diferentes, há sempre novidades... e geralmente, nem são coisas más. Pelo contrário, são pequenas "pás de cimento" que me ajudam a fortalecer. Mas a luta é constante. Aquela luta interior, essa, não tem fim à vista. Cada dia é mais um "round" e todos os dias saio de rastos. Mas não derrotada! É difícil encarnar uma personagem, personificar alguém que não sou, não me dar totalmente... é difícil não ser eu totalmente. Não que eu não o queira ser, mas porque tem de ser. Parece que estou a crescer... é difícil fingir um sorriso, quando só nos apetece é chorar. É difícil dizer "está tudo bem", quando não está. É difícil ser a imagem plena da felicidade, quando, para tal acontecer, ainda faltam algumas peças. É difícil. Mas é feito. A isso se chama "sobreviver". Sim, há dias mais complicados que outros. São os dias em que tomo consciência que não totalmente feliz. Nos outros dias estou demasiado ocupada para pensar nisso... estou a lutar para ser feliz.