sexta-feira, 26 de junho de 2009

A ferida

Lembro-me de quando era pequena. Das brincadeiras. Da única preocupação que tinha era de não ter tempo de as acabar. Nunca fui competitiva, por isso não me importava de ser a última nas corridas ou de não conseguir chegar à fase final do jogo do elástico, quando este estava já por cima das cabeças das amigas que o seguravam com os braços esticados. O que eu queria era divertir-me. O que eu queria era chegar a casa e contar as minhas tropelias. E se nelas pudesse incluir uma ferida ainda melhor. Porque quando brincávamos, os sítios escolhidos eram tudo menos alcatifados, o que implicava que, volta e meia, nos atrapalhássemos com as pernas e mais os atacadores desapertados e a pressa de não sermos apanhados ou de chegarmos em primeiro e... trambolhão na certa! Resultado: joelho esfolado, antebraço raspado e pranto imediato. Lágrimas pela dor que estávamos a sentir mas também pela reprimenda de só brincarmos ao "mata e esfola". Lá vinha a água oxigenada entornada em algodão, o mercuriocromo e o penso rápido. Mas, no dia seguinte, era o orgulho: poder chegar à escola e mostrar... a ferida. Ainda sem se poder ver a dimensão do estrago - já que estava resguardado pelo penso rápido - era uma alegria quando perguntavam "Então, o que é que te aconteceu?". Aí, éramos os maiores e, dependendo da maior ou menor capacidade de mentir,contribuindo assim para esticar ou não a história, contávamos a aventura que nos proporcionou... a ferida. Passado uns dias, o penso caía e a ferida ficava exposta e acompanhávamos a evolução desta com muita atenção, arrancando a crosta porque fazia comichão, depois vinha sangue outra vez, depois outra crosta... no fim, lá ficava a marca daquela correria que não "correu" bem.
É engraçado verificar que antigamente, tínhamos orgulho em mostrar a ferida e quanto maior esta fosse, mais valentes nós éramos por termos sobrevivido a tal desaire. Hoje, as feridas que mais doem são diferentes. São feridas interiores, já não estão expostas no corpo. Já não temos orgulho em mostrá-las, porém, continuamos a querer arrancar-lhes a "crosta" e a fazê-las sangrar. Estas feridas custam a cicratizar, mantém-se abertas por mais tempo não só porque lhes arrancamos a crosta mas também porque não as desinfectamos, não lhes pomos um penso rápido. Estas feridas não saram sozinhas, precisam de tratamento adequado. Estas feridas deixam marcas como as outras, mas também como as outras, com o passar do tempo, essas marcas são tão pequenas que serão apenas recordações de aventuras que passámos. E aí, com o passar do tempo, talvez tenhamos até orgulho em falar delas.

terça-feira, 23 de junho de 2009

terça-feira, 16 de junho de 2009

sábado, 13 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

domingo, 7 de junho de 2009

Quando tocam as campaínhas

A que é que associamos o som das campainhas? Ou o acto de tocar às campainhas? Pode ter vários significados: o mais comum, e no que mais depressa nos lembramos, é que tocamos à campainha quando queremos chamar alguém ou quando queremos anunciar a nossa presença à porta de alguém. Também tocam campainhas quando queremos despertar, o que, vulgarmente, tem-se denominado de alarme. Mas não deixa de ser o som estridente de uma campainha que nos ecoa no cérebro até que acordemos. Pois é: ultimamente tenho pensado muito em campainhas. Calma, não que não tenha mais nada em que pensar. Mas, simplesmente, porque "soaram várias campainhas" tem sido uma analogia que tenho usado bastante. De facto, às vezes parece que ando a dormir (lol). E por muito que as coisas estejam à frente dos meus olhos, eu não quero ver. Ou por muito que as pessoas me digam as coisas, eu não quero ouvir. Ou ainda por muito que as situações aconteçam, eu não quero perceber. Mas há sempre um momento em que tocam as campainhas. Há sempre um momento em que eu acordo e que percebo tudo o que se está a passar e compreendo tudo o que me disseram. Quando as campainhas tocam, eu desperto para a realidade. Sou chamada para o presente. Alguém está à minha porta à espera. Quando tocam as campainhas, eu cresço mais um bocadinho. Eu amadureço. Muitas vezes sou eu que toco as campainhas. Mas os outros também as fazem soar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009